Reflexão do 26º Domingo do Tempo Comum

442

Pe. Sebastião Corrêa Neto, pároco da Paróquia São Tiago Maior e Santana, Diocese de Oliveira.

Dar atenção à Palavra é descobri que acolhemos Deus nos pobres.  

A parábola que Jesus conta usa de muitas imagens: uma porta que separa mundos, festas, pobreza extrema, abismo, morte e vida. A imagem que mais nos deveria provocar é de um pobre à porta de uma mansão, cheio de feridas lambidas por cachorros. Tudo isso para nos mostrar que a escuta e prática da Palavra nos leva a acolher e criar um mundo novo. Mas afinal, Jesus quer falar de como será o céu? Não! Na verdade quer nos alertar para os abismos que criamos hoje.

A parábola nos chama a atenção para não compactuarmos com uma sociedade que constrói muros de separação. Criamos mundos que segregam e isolam, criamos distâncias, criamos uma bolha e nos colocamos dentro. Essa bolha cega! Só vemos aquilo que queremos ver. Criamos abismos que se tornam eternamente instransponíveis.

Atualizando a parábola, podemos falar de vários mundos distintos. Temos os centros de poder e comunidades periféricas, espaços com grande riqueza e recursos que estão nas mãos de poucos, o mundo do glamour e o mundo dos que dormem nas calçadas, o mundo que esbanja e desperdiça e o mundo que cata as sobras, o mundo dos que vivem seguros e despreocupados e o mundo dos que se sentem ameaçados por uma bala perdida. No caso, o mundo da opulência esbanja boa vida e se fecha para o drama dos pobres.

De um lado desses mundos está Lázaro! Lázaro é aquele que não tem um serviço público de qualidade, aquele que fica na fila de um posto médico sem garantia de que será atendido, é o jovem que não tem educação pública de qualidade, aquele que precisa aceitar um salário indigno para sobreviver, é o refugiado que não encontra asilo… Enfim, Lázaro está aí!

Podemos considerar normal um mundo assim? Será que nossa consciência não está anestesiada? A pobreza está escandalosamente à nossa porta e nos provoca a sairmos de nossa posição cômoda. Ou seja, nos permitir tocar pelo mundo dos pobres é questionar os motivos de existir tal situação. Talvez tenhamos muitas ações que oferecem algum frescor aos pobres, mas que no fundo não promovem o rompimento dos muros que separam. Dom Hélder disse: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista”. Há uma tendência a tratar os pobres de um modo assistencialista sem o compromisso de mudança da lógica predatória da mentalidade de vida em vigor.

Finalmente, o Papa Francisco, na catequese do dia 18 de maio de 2015, comentando essa parábola, nos recorda que “ignorar o pobre é ignorar Deus”. E também que a “a misericórdia de Deus para conosco é proporcional à nossa misericórdia para com o próximo”. E nossas comunidades cristãs, como estão dentro desse mundo de abismos? Como estão diante dos Lázaros de hoje?

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui