“O menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria.
E a graça de Deus estava com ele.” Lc 2, 40.
Sempre escutei que no advento o mundo estava grávido do menino Jesus. Aí eu pensava: que maravilhoso! Advento é sinal de que algo muito bom nascerá da humanidade. Depois que vivenciei uma gestação, da vinda da nossa Mariana, tive certeza que gerar é divino! E por isso um processo do coração.
19 de março de 2020, dia de São José. Nasce Mariana, que alegria! Uma menina, uma esperança em meio ao caos e a incerteza da pandemia que começara há oito dias! De volta para a casa a vivência da amamentação, grande desafio, era algo que alimentava minha filha e a mim ao mesmo tempo, uma troca, cheia de significado.
Mas as notícias não eram boas. Mortes, luto, fome, desgoverno. Nada do que pensei no advento da Mariana. 2020 parecia não ter acabado! Em 2021 a vacina esperançou a caminhada e salvou a humanidade do que parecia também não ter fim. Daqui de casa, do aconchego de cuidar e ser cuidada por um bebê, também pensava em como seria o amanhã. Quando eu sair de casa como as pessoas estarão?
O jornalismo sindical e a minha participação no grupo de fé e política apontavam que a guerra em defesa dos mais pobres era imensa e para além do vírus, era e é preciso derrotar o que a vacina não consegue controlar: a necropolítica de Bolsonaro, a ganância de Paulo Guedes e dos banqueiros, a inexistência de políticas públicas capazes de garantir aos milhares de desempregados um prato de comida o ano inteiro.
Nesse turbilhão a solidariedade das pessoas fazia o Natal acontecer fora do tempo comercial, porque Natal é esperançar, e quando matamos a fome do outro, fazemos o Natal acontecer.
O menino está para nascer! E parece ter demorado mais tempo para os encontros com nossos familiares e amigos ao redor da mesa, nas ceias e almoços em que os cristãos celebram o nascimento de Jesus. Mas, diante de tanta gente sem arroz e feijão, crianças sem leite, pão, sem frutas, é preciso fazer com que o Natal vá além desses momentos que vamos vivenciar nos próximos dias. É inaceitável fechar os olhos para essa realidade dura num país que bate recordes na produção de alimentos.
A importância do banquete é a presença e partilha. Assim me ensinaram Maria Helena e Tiago (amigos de caminhada que estão na memória e no coração). Por isso, para além do tempo de Natal, precisamos ser presença na vida dos irmãos e irmãs que padecem com fome, das mães que choram por não conseguir alimentar seus filhos. A fome dói. Esse advento que estamos vivendo deve gerar em nós o desejo de combater essa dor. De fazer com que a ceia vá além do Natal. Lutar contra a fome deve ser tarefa para todes!
Ser presença como os companheiros do Movimento Sem Terra, que contrapõe a lógica do agronegócio e cultivam alimentos sem veneno e com respeito à Gaia. Ser presença como os vários movimentos sociais, pastorais, sindicatos e associações foram realizando campanhas de arrecadação de alimentos. Durante a pandemia, essas iniciativas solidárias levaram alento a milhares famílias necessitadas.
Quando vejo que nossa Mariana tem morada, tem os pais empregados, está alimentada (além de seguir amamentando), tenho certeza do quão sagrado e urgente é garantir que todas as crianças tenham as mesmas condições, tenham seus direitos assegurados.
Daqui seguimos com o peito cheio de leite materno e de esperançar! Que em 2022 nos encontremos na luta! Sejamos presença! Sejamos partilha! Sejamos Natal para além da ceia e do capital!
Bianca Barra – mãe da Mariana, jornalista e integrante do grupo de fé e política de Juiz de Fora, da pastoral afro-brasileira Axé Criança e da caminhada das CEBs.