25º Grito dos excluídos e excluídas 2019

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Padre Nelito – Assessor das CEBs-MG

 A vida em primeiro lugar!Este sistema não Vale!

Penso que os sofrimentos do momento presente não se comparam com a glória futura que deverá de ser revelada em nós. A própria criação espera com impaciência a manifestação dos filhos e filhas de Deus. E não somente ela,mas também nós,que possuímos os primeiros frutos do Espírito,gememos no íntimo,esperando a adoção, a libertação para o nosso corpo(cf Romanos 8, 18 – 23).

desafiante para os outros e para nós mesmos. Gritar é uma das formas de sair de nossas angústias, expressar nossa indignação e auxiliar-nos diante do que parece impossível. É o limite entre o desespero e a esperança, é a saída do isolamento para o encontro com o comunitário. O grito é o primeiro ato rumo à liberdade. Ao lado de quem grita se estabelece a expectativa do movimento, cria-se um caminho para o coletivo. É o que fez Jesus em sua última hora de agonia e desespero: “Lá pela hora nona, Jesus deu um grande grito: ‘Eli, Eli, lemásabachtáni?’ Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste’? (cf Mateus 27,46)

Gritar hoje é tão necessário quanto nos tempos que nos precederam na história da humanidade e do Brasil de ontem e de hoje.Aqui está a importância do Grito dos excluídos e excluídas. Há 25 anos, sempre a 7 de Setembro, os povos excluídos se enxergam nas ruas, praças e avenidas de nossas cidades.

Esse ano nosso lema é “Esse Sistema não Vale”. É a denúncia ao sistema econômico que mata, em especial a mineradora Vale, responsável pela morte de setecentas pessoas e do desaparecimento de milhões de outras formas de vida, em nome do lucro, em Brumadinho-MG. Denuncia também a mineradora Samarco que, depois de quatro anos do crime/desastre sócio ambiental em Mariana-MG, matando dezenas de vidas humanas e destruindo milhões de outras formas de vida na Bacia do Rio Doce, permanece impune e descumprindo suas responsabilidades em reparação aos danos humanos e sócio ambientais.

O Grito dos excluídos e excluídas é uma proposta que nasce no seio da Igreja Católica e, em sua perspectiva ecumênica e social, é aberto ao diálogo com todas as organizações da sociedade, que se comprometem com as legítimas causas e lutas das vítimas da opressão e da exclusão e que buscam seu protagonismo.

O Grito situa-se no limite entre o desespero e a esperança. Todas as grandes transformações da sociedade sempre tiveram seu início em um grito.Na sociedade atual não faltam motivos para gritar. Certamente está faltando quem escute esses gritos.Das periferias do mundo ecoam variados gritos diariamente. São as chamadas minorias sociais que estão gritando, mas há aqueles que não deixam que elas sejam escutadas.

Gritamos contra os crimes cometidos pelo Estado, pelos policiais, pelas milícias, pelo crime organizado, pelos narcotraficantes, pelo agronegócio, pelo hidronegócio e pelas grandes mineradoras.Gritamos contra os crimes praticados contra a pessoa, por causa de sua orientação sexual diferenciada, contra a juventude, o feminicídio, a intolerância religiosa e política,o desmonte da previdência social, a reforma trabalhista e tributária, que estão implantando novamente o terror da miséria e da fome,jogando para a exclusão cinco milhões de pessoas,aumentando o contingente dos desempregados e da população em situação de rua, dos migrantes e dos refugiados.Gritamos contra a privatização dos serviços de saúde pública.

Todos são gritos de excluídos e excluídas desse sistema que, mesmo diante da abundância, teima em produzir morte, insiste no sequestro da cultura, da arte, da educação e macula a dimensão humana e cristã da vivência da fé.Nosso Grito está em sintonia com o Sínodo Pan Amazônico, convocado pelo Papa Francisco, a realizar-se em outubro 2019, em Roma, com o tema: Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral.

Esse Grito é necessário por colocarem marcha e de cabeça erguida todos aqueles e aquelas que ainda conseguem guardar algum grau de indignação e é capaz de conjugar o verbo esperançar.

É porque “um galo sozinho não tece a manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito e o lance a outro, de outros galos que com muitos outros galos se cruzam os fios de sol de seus gritos de galopara que a manhã, desde uma tela tênue, se vá tecendo, entre todos os galos”. (João Cabral de Melo Neto Tecendo a manhã)

Pela coordenação do 25º Grito dos excluídos e excluídas 2019

Governador Valadares – MG, 7 setembro de de 2019

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